Aleitamento Materno no Crescimento
e Desenvolvimento de Recém-nato


Luciane A Monte Alto, Professora Assistente de Odontopediatria da Universidade Estácio de Sá.
Vera M. Soviero, Professora Doutora de Odontopediatria da Universidade Estácio de Sá.
Maria Urânia Alves, Professora Assistente de Odontopediatria da Universidade Estácio de Sá.
Maria Eliza B. Ramos, Professora Assistente de Estomatologia da Universidade Estácio de Sá.

Resumo:

            O Objetivo deste artigo é informar, promover e incentivar o aleitamento materno, considerando, as vantagens para o desenvolvimento craniofacial, além de daquelas já reconhecidas relacionadas à imunidade da criança e o aspecto afetivo. É importante informar aos pais que o uso inapropriado da mamadeira pode trazer conseqüências negativas por não estimular o exercício muscular adequado, que seria um dos fatores responsáveis pelo crescimento da face. Também, os fatores etiológicos dos hábitos de sucção não nutritivos e as suas conseqüências para a oclusão dentária são comentados.

Palavras chaves: Aleitamento – Oclusão Dentária – Hábitos

Abstract:

            The aim of this paper is to inform, to promote and to motivate breastfeeding considering its advantages for the cranial and the facial development of the child ( in addition to the traditionally recognized advantages of breastfeeding, such as the child’s immunization and the positive emotional aspects). It is important to inform parents that inappropriate use of the bottle can bring unwanted consequences because it does not stimulate muscular exercise properly which would be one of the responsible factors for the growing of the face. Also, the etiologic factors of the non-nutritive sucking habits and its consequences for the dental occlusion are commented.

Key words: Breastfeeding – Dental Occlusion – Habits

Introdução

 

A Importância do Aleitamento Materno

O recém-nascido necessita de uma série de cuidados especiais, como uma boa higiene durante o parto, local aquecido, introdução do aleitamento materno preferencialmente na sala de parto, além de outros que são de extrema importância para sua saúde. As vantagens da lactação são reconhecidas em todo o mundo. O aleitamento materno tem sido encarado como a forma ideal de nutrição do lactente pela Academia Americana de Pediatria (AAP), sendo considerado um alimento completo, exclusivo e suficiente, além de ter ação imunizante, garantindo crescimento e desenvolvimento adequados aproximadamente durante os seis primeiros meses ( AHN & MAcLEAN, 1980; WALTER et al., 1996; LAWRENCE et al., 1998).

            As vantagens para o lactente e para a mãe, tem sido documentadas com bases científicas. Em relação ao recém-nato, há redução do risco de adquirir doenças agudas e crônicas, além da sua importância sob os pontos de vista psicológico e imunológico. Traz também benefícios para a mãe, diminuindo a incidência de hemorragias pós-parto, auxiliando na recuperação mais rápida do peso anterior à gravidez e no aparecimento mais tardio da ovulação, condicionando menor possibilidade de nova gravidez. Há ainda melhoria da remineralização óssea pós-parto e diminuição do risco de cancro no ovário e na mama durante a pré-menopausa.

(DEWEY et al., 1993; GRAY et al., 1990; MELTON, et al., 1993; NEW-COMB et al., 1994).

            Além destes benefícios, não se pode deixar de citar o fato da menor probabilidade de desenvolvimento de doenças generalizadas pela criança que é amamentada no peito, e dos benefícios econômicos, isto é, dos custos relacionados com a aquisição de leite para lactentes durante o período de amamentação.

            A criança deverá ter contato com o seio materno logo após o nascimento, o mais precocemente possível, devendo esta estar perto da mãe em alojamento conjunto, isto é, todo o tempo possível (RICHARD & ALADE, 1990). Normalmente não é necessário nenhum tipo de suplemento, nem a utilização de chupetas (AAP, 1993).

O papel da amamentação no
desenvolvimento craniofacial

            O aleitamento materno tem sido apontado como um fator importante para o desenvolvimento craniofacial adequado. O ato de mamar no peito provê ótimo exercício da musculatura orofacial, estimulando favoravelmente as funções da respiração e deglutição, o que não acontece quando a mamadeira é utilizada. Quando o bebê suga corretamente o seio materno, ocorre um perfeito vedamento da passagem de ar pela boca, o que obriga a realizar a sucção e a deglutição sempre respirando pelo nariz. O bico da mamadeira, por outro lado, favorece a entrada de ar pela boca e, conseqüentemente, a respiração bucal (MARTINS, 1945; MALAGOLA, 1986; CAMRGO, 1998). O desempenho correto de tais funções possibilita que os maxilares sejam desenvolvidos de forma adequada, gerando uma menor possibilidade da necessidade de utilizar aparelhos ortodônticos futuramente (CRO Notícias, 2000).

            O manual elaborado pelo Ministério da Saúde do Brasil (BRASIL.MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1997) para promover e incentivar o aleitamento materno recomenda que a criança esteja com seu estômago bem encostado na barriga da mãe, de modo que não precise virar a cabeça e que seu queixo também toque a mama. O bebê deve sugar em posição correta para poder abocanhar não somente o mamilo, mas grande parte da aréola, onde estão localizados os ductos lactíferos (Figura 1). Quando a criança abocanha somente o mamilo, o ato de ordenha não acontece de forma correta, pois os ductos lactíferos não são pressionados pela língua de encontro ao palato. O resultado disto é a saída insuficiente de leite e a recusa da criança em mamar. Em geral, a mãe perde a auto confiança e pode acreditar que possui pouco leite, quando, na realidade, a posição para a amamentação é que está errada. Um ato comumente observado entre as mães é o de tentar ajudar o bebê durante amamentação, pressionando o seio com os dedos, para afasta-lo do nariz do bebê. Este ato não é necessário, pois o bebê não ficará sufocado pelo peito da mãe e, além disso, a mãe pode estar puxando o bico do seio para fora da boca da criança, prejudicando  a posição da mamada.

            Evidentemente existem algumas situações que podem impedir que a mãe exerça o ato de amamentar seu filho, mesmo que ela tivesse intenção de fazê-lo. Este é o caso por exemplo, das mães infectadas pelo vírus HIV e daquelas cuja produção de leite é interrompida por problemas emocionais ou de saúde geral. Nestes casos invariavelmente, a mamadeira deverá ser utilizada. O importante é que a sucção do bico da mamadeira não seja mais fácil do que a sucção do bico do peito da mãe e tente reproduzir, ao máximo, as condições do aleitamento natural, para que todas as funções, de sucção, respiração e musculares, sejam exercidas adequadamente. Para tal, a mamadeira nunca deve ficar solta, apoiada no peito ou na boca do bebê; deve estar posicionada fazendo um ângulo de aproximadamente 45º com o corpo. O queixo da criança deve estar afastado do peito para que não impeça os movimentos de sucção e não dificulte a respiração. Além disso, o bico deve ser curto, com bojo arredondado e com o orifício pequeno (Fig. 2), de modo que, se a mamadeira estiver cheia de leite e virada para baixo, permita a passagem de somente vinte a trinta gotas por minuto (CAMARGO, 1998).

            O exercício muscular realizado pelo bebê durante o aleitamento é um dos fatores responsáveis pelo crescimento harmonioso da face e da dentição. A mamadeira não favorece este esforço, principalmente quando o seu bico apresenta um “furo” exagerado (Fig.3).Além disso, a sua utilização induz a adição de açúcar, mel achocolatados, farináceos, entre outros, os quais são altamente cariogênicos. Um outro fator digno de menção é que as crianças que não mamam no peito, ou que mamam por um período muito curto, são mais propensas a desenvolver o hábito de sucção de chupeta ou dedo (SERRA NEGRA et al., 1997; COLETI e BARTHOLOMEU, 1998; PRAETZEL & ABRAHÃO, 1999; LEITE et al., 1999; SOVIERO, 1999).

            A instalação do hábito de sucção de chupeta pode provocar um desvio na direção do crescimento maxilar, favorecendo o desenvolvimento de maloclusões, como por exemplo a mordida aberta anterior. Por isso, as chupetas não devem ser utilizadas por longos períodos de tempo  e de forma indiscriminada. Por outro lado, efeitos benéficos podem ser obtidos quando a chupeta é usada racionalmente, com o intuito de saciar a necessidade instintiva de sucção e de estimular a musculatura. Quando o bebê está alimentado e chora por falta de sucção, a chupeta poderá ser utilizada como um instrumento de estímulo, na forma de um exercício muscular, logo a criança se cansa, dorme e larga a chupeta. Entretanto, a mãe deverá acompanhar os movimentos de sucção segurando a chupeta e puxando levemente para trás como se tentasse retirá-la da boca do bebê. A pós alguns minutos, a criança já se satisfez e a chupeta pode ser retirada. Quando utilizada, a chupeta deverá ser do tamanho adequado, isto é, compatível com a boca do bebê, e ser ortodôntica, para proporcionar o melhor posicionamento da língua (Fig. 4). Durante o sono a boca do bebê deverá estar completamente fechada, com os lábios em contato, e a respiração deve ser estritamente nasal (CAMARGO et al., 1998).

            Jamais deverão ser utilizados líquidos ou quaisquer substâncias adocicadas na chupeta do bebê com o intuito de acalmá-lo, pois, como resultado, alguns danos podem ser trazidos para o mesmo, se os dentes já estiverem presentes.

O aleitamento materno
nos dias atuais

A utilização de leites artificiais, como substitutos do leite materno, começou a ser divulgada no início do século xx. A partir da década de 70, entretanto, observou-se um movimento de revalorização e retorno ao aleitamento materno em todo o mundo. Especificamente no Brasil, em 1981, o Ministério de Saúde implantou o Grupo Técnico Executivo Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno que iniciou uma série de atividades em prol do aleitamento natural (BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE/INAN, 1991).

            A prevalência de aleitamento materno observada no Brasil é bastante alta. No entanto, o desmame tende a ocorrer precocemente e a mamadeira introduzida antes dos 4 meses de vida (IBGE, 1989; ADESSI, 1994; GIUGLIANI et al., 1995; SENA, 1997; SOVIERO, 1999). MONTEIRO (1988) constatou que o tempo médio encontrado pelas crianças que mamavam exclusivamente no seio materno foi de 2 meses aproximadamente. Do total da amostra estudada, aos seis meses de idade, apenas 1/3 das crianças continuavam sendo amamentadas. Dentre os fatores apontados como causas para o desmame precoce, destacam-se a escassez de informação das mães, o desenvolvimento de leites artificiais e o papel mais ativo da mulher no mercado de trabalho (BRASIL.MINISTÉRIO DA SAÚDE/INAM, 1991).

            MODESTO et al. (1998) após entrevistar 150 mães, observou que 87,3% destas amamentavam, de forma exclusiva os seus bebês. Este número significativo que foi encontrado, se deve ao fato das mães terem recebido informações anteriormente sobre a importância da amamentação. Entretanto, foi também constatado que apesar de haver o aleitamento natural, a mamadeira não deixou de ser utilizada e, muitas vezes, até uma idade tardia. Ao avaliar o hábito de aleitamento desenvolvido por 202 mães de crianças atendidas no Ambulatório de Pediatria do Hospital Pedro Ernesto (HUPE), foi constatado que 188 (93,1%) amamentavam seus filhos. Entretanto, apenas 34 (16,8%) mamaram somente no peito, 154 (76,2%) mamaram no peito e na mamadeira e 14 (6,9%) somente na mamadeira. Apenas 78 (41,5%) das crianças receberam leite materno até os seis meses de idade. Os autores concluíram que, apesar da alta prevalência de aleitamento materno encontrada na pesquisa, esta estava associada ao uso de mamadeira, introduzida precocemente, na maioria dos casos (MONTE ALTO et al., 1999).

            A utilização indiscriminada da mamadeira contraria a orientação da Organização Mundial de Saúde que preconiza que não seja oferecido nenhum tipo de bico artificial ao bebê que é amamentado ao seio, pressupondo que a criança deva passar do peito da mãe diretamente para a colher ou copo. O ideal é que a criança, até os 6 meses de idade, seja amamentada exclusivamente no seio materno, em esquema de livre demanda, ou seja, a mãe deve oferecer o seio em todos os momentos que a criança desejar. A partir desta fase, o desmame deve ser iniciado, oferecendo alimentos na colher e em copos com canudos. A consistência dos alimentos deve ser aumentada gradativamente, de modo a permitir e incentivar que a criança deixe a fase de sucção e passe para passar a mastigar. Em geral, por volta dos 12 meses de idade, a criança já foi totalmente desmamada (OMS/UNICEF, 1989; WALTER, 1996).

            Independente de ser natural ou artificial, o aleitamento deve sempre constituir-se em um ato de prazer entre mãe e filho, no qual a mãe tem sua atenção totalmente dirigida à criança (EDUARDO et al., 1998).

Conclusões

            O esclarecimento básico por parte dos profissionais da área médico-odontológica às gestantes, com referência à prática da amamentação é da competência destes profissionais. O cirurgião dentista, em especial o Odontopediatra, deverá estar apto para alertar as mães, se possível durante o período da gestação, motivando-as sobre a importância da sucção ao seio materno, bem como da utilização racional da chupeta. Os métodos de higiene bucal após a erupção dos primeiros dentinhos, além da importância do acompanhamento odontológico pelo profissional, também devem ser colocados o quanto antes para a gestante.

            Existe fundamental necessidade da interação médico-odontológica no sentido de promover e implantar medidas que apóiam a amamentação materna correta como meio de alimentação para os lactentes, evitando o uso indiscriminado da mamadeira.